18 de fevereiro de 2012

Félix Pacheco ( Vida e sonetos)


                        FÉLIX  PACHECO

12 de fevereiro de 2012

Saudade ( segundo gole)


SONETO IV

O tempo passa e parece que é mentira,
O beijo, as mãos, o olhar, o som mudo.
Triste de quem lembra depois que o mundo gira
Aquela velha imagem do amor em quase tudo.

Ser valioso como bem do homem sem estudo,
E resistente como a madeira que antigamente existira.
Quem tira da cabeça, inutilmente, o que é tão puro?
Se do próprio coração, o que é tão puro, não se tira!

Resquícios que a saudade mais forte não leva,
E que trás o silencio numa vaga noite escura,
Enquanto a musica toca e da boca se eleva.

E aos olhos fechados sem um verdadeiro norte,
Não se quer acreditar que o amor existe àquela altura,
Quer-se apenas ter certeza que ele foi forte.


 
SONETO V

Outros passam a esquecê-la com vontade,
Outros mais a vivê-la na vida e na poesia.
Eu nunca chamaria de um belo dia,
O triste dia que eu não falar de saudade.

Recordar o que está longe não me arde.
A minha saudade é precoce, forte e fria.
Nasce do que não foi como quem desconfia
Que as horas estão a descobertar a verdade.

Saudade – são mãos partidas por quem fez as horas.
São lagrimas vertidas na solidão com os grilos,
E um sorriso forçado no meio da multidão de fora.

Imagino que quem fez a saudade sem aviso
Não precisava dar nome a tantas coisas
Porque ela só carrega toda lagrima e todo sorriso.



SONETO VI

Quando baixo os olhos é quando estou te vendo
A quilômetros, acima dos muros que o tempo bota.
E vejo, também, que a esperança é uma flor contendo
Uma saudade fracamente retida nos olhos gota a gota.

Quando fecho os olhos, a tua vida eu sorvo e prendo
No semblante que a madrugada em duas mãos denota.
E eram tão unidas talvez, que alguém as lendo
Diria certamente que as vidas teriam uma só rota.

E abro os olhos... meus pés estão sobre a flor em tiras.
E as folhas que escrevi esfareladas não sei onde,
Eram verdades... com uma ou duas mentiras.

Ergo os olhos, já não te vejo ao caminho reto.
E a estranha memória a tudo isso responde:
‘‘ Aquela flor nunca estará morta por completo’’

 


SONETO VII

Hão de olhar meu livro e desdenhar o que faço.
‘‘ Versos de loucura e sem juízo, nada menos consistem’’
E sem piedade irão jogá- lo num ermo espaço,
Onde só poeira e lixo imperam e resistem...

E alguém sofrendo de saudade o forte cansaço,
Que não entenda de letras e nem de perfeição triste,
Levará o livro muito velho preso ao peito num abraço,
Depois de saber que o que ele tem lá existe.

‘‘ São sonhos e visão de alguém sem idade,
Alguém que escreve não sei para quem precisamente,
Mas que precisamente, escreve sempre a mesma saudade.’’

Deduzirá o fadigado depois do livro lido.
E se perguntarem- no alívio para quem saudade sente
Meu livro estará sempre na mão dele, erguido.

10 de fevereiro de 2012

Saudade ( primeiro gole)


SONETO I

Saudade, mais uma vez num poema.
As velhas cartas com o mesmo laço.
Mas nunca o mesmo sol: a estrela suprema,
Quanto mais eu viver longe do teu abraço,

Quanto mais da tua voz nesse espaço
Que contra a minha lembrança rema
Eu só faço parecer o que não faço
Mas te faço parecer a minha dor extrema

É que na tua ausência me tornei monge
E vivo amando a tua imagem linda e terna
No meu mosteiro de saudade muito longe.

Eu nunca quis padecer como os abrolhos,
Nunca padecer com essa tristeza eterna,
Nunca viver mais distante dos teus olhos.

SONETO AO EXEMPLO
(Homenagem a Profª Ms. Shenna Luissa Mota Rocha de Lit. Port. em 31.01.12 na UFPI)

  Diante de seus olhos é vária a idade
No silêncio ideal que sua voz requesta.
Em sala, o modo como o conhecimento nos presta
Da sua enorme competência, nos persuade.

Sua atenção a qualquer dúvida atesta
O quanto põe, ao que faz, amor e vontade.
Quem de nós ao ouvi- la e vê-la, mestra,
Não lembrará, depois de tudo, a saudade?

Será como as flores de Arcimboldo na memória;
Harmônicas músicas que a lágrima fulgura;
  Esse gostar de escritores esquecidos na história...

Neste soneto, mesmo que mínguem os espaços
Nem a todo custo conterão depois da leitura
A enorme força que lhe causará todos os abraços!

SONETO II

Os ígneos sonhos, o ecoar da lira.
Tudo quer quem o nobre amor procura:
Um trecho da aurora, uma casta alvura
De um vasto céu ou uma luz que não se vira.

Pobre quem recolhe a falsa mentira
Na boca que um dúbio poeta murmura.
Que fará da certa alegria futura
Quando só a viva solidão suspira?

O amor nem só de glória se descreve
A alma que muito ama, os males compreende
Como uma nuvem a passar de leve.

Eu, porém, não me engano ou me falseio
Tenho um amor que o cuidado me prende
E uma saudade que me corta ao meio.