12 de fevereiro de 2012

Saudade ( segundo gole)


SONETO IV

O tempo passa e parece que é mentira,
O beijo, as mãos, o olhar, o som mudo.
Triste de quem lembra depois que o mundo gira
Aquela velha imagem do amor em quase tudo.

Ser valioso como bem do homem sem estudo,
E resistente como a madeira que antigamente existira.
Quem tira da cabeça, inutilmente, o que é tão puro?
Se do próprio coração, o que é tão puro, não se tira!

Resquícios que a saudade mais forte não leva,
E que trás o silencio numa vaga noite escura,
Enquanto a musica toca e da boca se eleva.

E aos olhos fechados sem um verdadeiro norte,
Não se quer acreditar que o amor existe àquela altura,
Quer-se apenas ter certeza que ele foi forte.


 
SONETO V

Outros passam a esquecê-la com vontade,
Outros mais a vivê-la na vida e na poesia.
Eu nunca chamaria de um belo dia,
O triste dia que eu não falar de saudade.

Recordar o que está longe não me arde.
A minha saudade é precoce, forte e fria.
Nasce do que não foi como quem desconfia
Que as horas estão a descobertar a verdade.

Saudade – são mãos partidas por quem fez as horas.
São lagrimas vertidas na solidão com os grilos,
E um sorriso forçado no meio da multidão de fora.

Imagino que quem fez a saudade sem aviso
Não precisava dar nome a tantas coisas
Porque ela só carrega toda lagrima e todo sorriso.



SONETO VI

Quando baixo os olhos é quando estou te vendo
A quilômetros, acima dos muros que o tempo bota.
E vejo, também, que a esperança é uma flor contendo
Uma saudade fracamente retida nos olhos gota a gota.

Quando fecho os olhos, a tua vida eu sorvo e prendo
No semblante que a madrugada em duas mãos denota.
E eram tão unidas talvez, que alguém as lendo
Diria certamente que as vidas teriam uma só rota.

E abro os olhos... meus pés estão sobre a flor em tiras.
E as folhas que escrevi esfareladas não sei onde,
Eram verdades... com uma ou duas mentiras.

Ergo os olhos, já não te vejo ao caminho reto.
E a estranha memória a tudo isso responde:
‘‘ Aquela flor nunca estará morta por completo’’

 


SONETO VII

Hão de olhar meu livro e desdenhar o que faço.
‘‘ Versos de loucura e sem juízo, nada menos consistem’’
E sem piedade irão jogá- lo num ermo espaço,
Onde só poeira e lixo imperam e resistem...

E alguém sofrendo de saudade o forte cansaço,
Que não entenda de letras e nem de perfeição triste,
Levará o livro muito velho preso ao peito num abraço,
Depois de saber que o que ele tem lá existe.

‘‘ São sonhos e visão de alguém sem idade,
Alguém que escreve não sei para quem precisamente,
Mas que precisamente, escreve sempre a mesma saudade.’’

Deduzirá o fadigado depois do livro lido.
E se perguntarem- no alívio para quem saudade sente
Meu livro estará sempre na mão dele, erguido.

2 comentários:

  1. Muito me agrada ler um sonetista pela internet e produzindo em tempo real (ou não). Massa mesmo, avante aí, camarada!

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  2. Barroso, meu caro! Que bom ver que vc construiu um link p/ nosso contato e, o mais importante, um link de sua poesia para o mundo! Tbm tenho um blog literário, mas vc não gostará, posto que se trata de versos brancos e livres... kkk Mas o que importa agora é que poderei ler-te frequentemente.
    Um abraço forte!

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