2 de março de 2012

Altevir Alencar (Vida e sonetos)




ALTEVIR Soares ALENCAR é professor de Português e Literatura, advogado, jornalista, filósofo, poeta e cronista. Possui bacharelado em Direito, Mestrado em Direito Penal na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Seu valor intelectual é reconhecido tanto no lugar onde nasceu (Alto Longá- Piauí) quanto fora. Pertence à Academia Sul- mato- grossense de Letras, ao Clube de Poesia de Recife, à Academia de Letras do Longá e a Academia Piauiense de Letras.
O contato que eu tive com esse poeta foi olhando as estantes da Literatura Piauiense na Biblioteca Geral da UFPI e achando seu livro ‘‘ Livro de Sonetos ’’ que por sinal é um livro muito rico na simplicidade, talvez como o próprio poeta, mas de um conteúdo sentimental profundo e exato. Seus sonetos quando declamado são como melodias. Sinto-me alegre por ter encontrado alguém ainda vivo, que produza sonetos tão bem, e que pertença a esse estado.
Altevir Alencar é autor de Sonho e       Realidade (1956); Eterno Crepúsculo (1961); Poemas da Solidão (1967); Poemas Para Quem Sabe Amar (1968); Dentro De Mim (1971); Êxtase (1973); Livro de Sonetos (1988) etc.

ALGUNS SONETOS


PORTA DA GLÓRA

Os anos são degraus. A vida é a escada.
Longa ou breve, só Deus pode medi-la.
Degraus de escada íngreme que oscila
Segundo os ventos do Destino. E cada

Um dos que um dia tentam a escalada,
Vai por necessidade de subi-la.
Uns sobem mais, outros não sobem nada:
Um treme, um pende, um cai, um se aniquila.

Há bem no topo dessa escada incerta
A porta ansiosamente desejada,
Vista de longe, oculta, descoberta.

Estanha porta de ouro, atra e pesada:
Para os que nunca a alcançam, vive aberta:
Para os que chegam perto...está fechada.

ESCREVENDO

Há tanto tempo não escrevo um verso
Que ate supunha andar por outras vidas,
Que meu sonho de poeta estava imerso
No silencio das coisas esquecidas...

Que as desbotadas páginas perdidas
Do velho livro no passado adverso
Estavam mortas vendo as renascidas;
Presinto o olhar em lagrimas imerso.

Fique gravada neste seu caderno
- Já que ser poeta é ter um sonho eterno-
A eternidade do meu poema,amiga!

Porém, só vejo nesta ultima prova,
Em cada rima uma tristeza nova...
Em cada verso uma tristeza antiga.

QUANDO PARTI

Quando parti, tudo chorava. A lua
Entre os véus da neblina se escondia.
Nada levei da vida a face nua,
Sem lar, sem paz, sem luz, sem fé, sem dia.

Pranto nos olhos cheios de agonia.
E no silencio cruel da mesma rua,
Era de ver minh’alma humilde e fria,
Exausta de sofrer, fugindo á tua.

Quando parti, o inverno se agitava.
E ao longo do caminho que trilhava
Fui desfolhando os sonhos imortais.

Levava apenas minha mocidade,
Uma oração, um poema, uma saudade,
As letras do alfabeto... e nada mais.

QUANDO VOLTEI

Quando voltei,era mês de agosto.
O tempo transmudara o mundo e a vida,
A tarde morta, as sombras do sol-posto:
Tudo chorava uma ilusão perdida.

Vim da longa jornada_ave caída
Nos matagais escuros do desgosto_,
Tinha no olhar uma expressão dorida
Amortalhando as rugas do meu rosto.

Quando voltei,também voltava o outono.
E pela mesma estrada do abandono
Perdi meus versos tão sentimentais.

Trazia apenas lagrimas tardias,
O coração descrente,as mãos vazias,
Um soluço partido...e nada mais.


ALENCAR, Altevir. Livro de sonetos. EDUFPI: Academia de Letras do Vale do Longá, 1996




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