SONETO IV
O
tempo passa e parece que é mentira,
O
beijo, as mãos, o olhar, o som mudo.
Triste
de quem lembra depois que o mundo gira
Aquela
velha imagem do amor em quase tudo.
Ser
valioso como bem do homem sem estudo,
E
resistente como a madeira que antigamente existira.
Quem
tira da cabeça, inutilmente, o que é tão puro?
Se
do próprio coração, o que é tão puro, não se tira!
Resquícios
que a saudade mais forte não leva,
E
que trás o silencio numa vaga noite escura,
Enquanto
a musica toca e da boca se eleva.
E
aos olhos fechados sem um verdadeiro norte,
Não
se quer acreditar que o amor existe àquela altura,
Quer-se
apenas ter certeza que ele foi forte.
SONETO V
Outros
passam a esquecê-la com vontade,
Outros
mais a vivê-la na vida e na poesia.
Eu
nunca chamaria de um belo dia,
O
triste dia que eu não falar de saudade.
Recordar
o que está longe não me arde.
A
minha saudade é precoce, forte e fria.
Nasce
do que não foi como quem desconfia
Que
as horas estão a descobertar a verdade.
Saudade
– são mãos partidas por quem fez as horas.
São
lagrimas vertidas na solidão com os grilos,
E
um sorriso forçado no meio da multidão de fora.
Imagino
que quem fez a saudade sem aviso
Não
precisava dar nome a tantas coisas
Porque
ela só carrega toda lagrima e todo sorriso.
SONETO VI
Quando
baixo os olhos é quando estou te vendo
A
quilômetros, acima dos muros que o tempo bota.
E
vejo, também, que a esperança é uma flor contendo
Uma
saudade fracamente retida nos olhos gota a gota.
Quando
fecho os olhos, a tua vida eu sorvo e prendo
No
semblante que a madrugada em duas mãos denota.
E
eram tão unidas talvez, que alguém as lendo
Diria
certamente que as vidas teriam uma só rota.
E
abro os olhos... meus pés estão sobre a flor em tiras.
E
as folhas que escrevi esfareladas não sei onde,
Eram
verdades... com uma ou duas mentiras.
Ergo
os olhos, já não te vejo ao caminho reto.
E
a estranha memória a tudo isso responde:
‘‘
Aquela flor nunca estará morta por completo’’
SONETO VII
Hão
de olhar meu livro e desdenhar o que faço.
‘‘
Versos de loucura e sem juízo, nada menos consistem’’
E
sem piedade irão jogá- lo num ermo espaço,
Onde
só poeira e lixo imperam e resistem...
E
alguém sofrendo de saudade o forte cansaço,
Que
não entenda de letras e nem de perfeição triste,
Levará
o livro muito velho preso ao peito num abraço,
Depois
de saber que o que ele tem lá existe.
‘‘
São sonhos e visão de alguém sem idade,
Alguém
que escreve não sei para quem precisamente,
Mas
que precisamente, escreve sempre a mesma saudade.’’
Deduzirá
o fadigado depois do livro lido.
E
se perguntarem- no alívio para quem saudade sente
Meu
livro estará sempre na mão dele, erguido.
Muito me agrada ler um sonetista pela internet e produzindo em tempo real (ou não). Massa mesmo, avante aí, camarada!
ResponderExcluirBarroso, meu caro! Que bom ver que vc construiu um link p/ nosso contato e, o mais importante, um link de sua poesia para o mundo! Tbm tenho um blog literário, mas vc não gostará, posto que se trata de versos brancos e livres... kkk Mas o que importa agora é que poderei ler-te frequentemente.
ResponderExcluirUm abraço forte!